O controle motor é um processo complexo que envolve o planejamento, a programação e a execução motora. Através das informações dos múltiplos sistemas sensoriais (visual, vestibular e somatossensorial) captadas pelos receptores (proprioceptores, mecanoreceptores, termoreceptores, etc), nosso sistema nervoso processa as informações durante todo o movimento pretendido e realiza os ajustes necessários de força, tempo, velocidade e direção. O controle motor é um elemento essencial da vida humana e nos permite realizar muitas das nossas atividades diárias. 

Um controle motor adequado promove estabilidade e previne movimentos indesejáveis e compensatórios, que causam sobrecargas e lesões. O movimento considerado adequado é aquele que realizamos com os músculos que precisam ser ativados e relaxados no momento ideal gerando o movimento de maior qualidade. Todas as informações obtidas para realizar um movimento podem ser armazenadas e serem usadas novamente ao desempenhar futuramente a mesma tarefa. Se isso for repetido, uma nova habilidade pode ser aprendida. Como terapeutas, podemos mudar o ambiente ou a tarefa para permitir que nossos pacientes alcancem seus objetivos. 

O aprendizado motor é a capacidade de produzir uma mudança relativamente permanente nas habilidades motoras, de iniciante a um desempenho qualificado, através da prática ou experiência. Envolve a melhoria do movimento (como, por exemplo, atingir um alvo com mais precisão e reduzir os erros), consistência (estabilidade, firmeza, durabilidade, confiabilidade), retenção (aprendizado permanente), transferência (capacidade de executar um movimento semelhante dentro de um contexto diferente em que foi aprendido inicialmente, alterando a quantidade de força, superfície, localização, etc.).

O aprendizado motor possui 3 fases: cognitiva, associativa e autônoma. Na cognitiva, a atenção é necessária para compreender os componentes necessários da habilidade. Nessa fase é comum movimento com pouca qualidade e rígidos, e muitas correções são necessárias. O foco é realizar com poucas variáveis e pouca carga. Discuta porque você está realizando o movimento. Faça demonstrações para guiar, não forneça muita informação, coloque ênfase no processo e não no resultado. Na fase associativa, há o refinamento da eficiência do movimento, com menos erros. Menos atenção cognitiva é requerida. Promove autoanálise. Na fase autônoma, a habilidade motora é completa com pequena orientação cognitiva ou controle consciente. O foco não é no movimento, mas sim em outras habilidades, como estratégias e tópicos não relacionados. Nessa fase há mínima intervenção. 

A habilidade motora é aperfeiçoada através da prática. O processo de aprendizado ideal não é claro; portanto, quantidade, tipo, dose e frequência devem ser individualizados, dependendo das capacidades de aprendizado de cada indivíduo. O processo de aprendizagem também envolve foco, instruções, feedbacks, demonstrações e auxílios manuais pelo terapeuta. Principalmente no início, o terapeuta pode demonstrar o movimento primeiro para depois a pessoa repetir. Também são muito valiosas as orientações manuais, através do toque, movendo passivamente o cliente, permitindo um aumento no feedback proprioceptivo. 

Ao dar instruções, você pode dar ênfase no resultado do movimento ao invés do próprio movimento, ou seja, usar “imagine chutar uma bola” em vez de “estenda mais o joelho”. O uso de um foco externo de atenção permite que o processo de aprendizado aconteça mais rapidamente e pode resultar em melhor desempenho, permitindo que o paciente desenvolva suas próprias estratégias de movimento. Mas se você quer que ele desenvolva as estratégias adequadas, vá fornecendo as instruções ao longo do movimento, passo a passo.

Outro recurso importante na aprendizagem do movimento é o feedback interno, através da consciência cinestésica da própria pessoa, fornecendo informações sobre o movimento por meios sensoriais, visuais e auditivos. E também tem o feedback externo, dado pelo terapeuta através de instruções verbais, visuais (demonstração) e físicas (guiar pelo toque). Pode ser focado no resultado ou no desempenho, na qualidade de execução motora. Também pode ser genérico, sobre o movimento, ou específico, sobre uma parte do movimento. O feedback fornecido pelo terapeuta pode ser durante ou após a conclusão da tarefa. Se o feedback é repetidamente fornecido ao longo de um movimento, isso pode prejudicar a capacidade de o aluno de reter e transferir com sucesso a habilidade, se tornando participante passivo, que depende do feedback. A quantidade de feedback deve ser reduzida gradualmente à medida que o aluno progride em sua reabilitação, fornecendo-o apenas se ocorrerem grandes erros ou permitir que o aluno guie o feedback. Promova a aprendizagem ativa perguntando “como você pensa que foi? ” ou “o que você pode efetuar diferente na próxima vez? ”. Outra dica importante é não fornecer informações demais em simultâneo, isso deixará o praticante confuso. Faça uma ou duas correções por vez, e quando ele conseguir proponha um novo desafio.

Como terapeutas, podemos usar todos os recursos de aprendizagem motora para corrigir ou ensinar um novo padrão de movimento que seja mais eficiente e adequado. O mais importante é avaliar a função cognitiva, motora e sensorial de cada paciente e dar as instruções e feedbacks baseados nas especificidades de cada indivíduo. Alguns necessitam de mais atenção e informação, outros menos. Os que tem capacidade cognitiva deficiente, teremos que usar mais os recursos táteis e proprioceptivos, guiando o movimento. Faça o praticante sempre buscar o seu máximo! 

Ana Paula Francisco Chediek  – Fisioterapeuta. Mestre em ciências pelo Dep. Ginecologia e Obstetrícia da FMRP-USP.

Referencia:

Leporace G, Metsavaht L, Sposito MMM. Importância do treinamento da propriocepção e do controle motor na reabilitação após lesoes músculo-esqueléticas. Acta Fisiátr. 2009;16(3):126-131

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