Em 2010 aproximadamente visitei mais uma vez o México, mas precisamente Los Cabos, Baja Califórnia onde trabalhei um curso de terapias aquáticas para os profissionais da região e entre eles havia uma Terapeuta Ocupacional que trabalhava em um centro de terapias que havia golfinhos em cativeiro com crianças com necessidades especiais. Fui apresentado ao local e passei pelo processo de conhecer a Golfinho terapia. Foi fascinante a experiência, senti que minha mente se expandiu e que minha energia corporal crescia e meu coração batia de uma forma que nunca havia sentido. Realmente fascinante.
Conheci o trabalho que era feito com as crianças com capacidades múltiplas e TEA e fiquei em princípio em estado de negação pela temperatura da água com algumas crianças com paralisia e outras com espasticidade que saíam da água de forma rígidas, já que a água com os animais não podia ser aquecida.
Participei do show dos golfinhos como turista tonto e tirei esta foto com toda a parafernália que o turismo faz, com instrutores muito competentes e animais mais muito bem treinados em uma infra-estrutura de ótima qualidade, oferecendo toda a segurança aos turistas. Conversei com os treinadores que me deram algumas informações e sai daí decidido a trazer profissionais brasileiros para terem esta experiência para posteriormente criar uma ponte para os pacientes poderem acessar a terapia com golfinhos.
Antes de tudo, queria saber mais dos bastidores e comecei a investigar. Descobri que nem tudo era tão maravilhoso assim. Conheci outros centros também no México mais ao sul vi como os animais eram tratados e a maioria eram muito bem tratados todo tempo, inclusive com apenas uma simples barreira que o separava do mar e de sua liberdade se quisesse, mas o animal não saltava para fora do cativeiro. Eram golfinhos que nasceram ali e que tinham como realidade aquele espaço grande, se fosse um ser humano. Para um golfinho creio que era como uma míni casa para um humano que ficasse ai em isolamento eterno.
Verifiquei também que os animais que não colaborava com o treinamento após o show eram confinados alguns minutos em um espaço reduzido onde não podiam quase se mover, um espaço como 30 metros quadrados. Se debatiam um pouco durante estes minutos e depois eram libertados, agora com outra atitude, menos agressivos e mais colaborativos.
Descobri também através de pesquisas que os golfinhos que não nasciam e eram criados em cativeiros, fossem pegos no mar tinham que passar por um processo de adaptação a alimentação onde eram submetidos a se alimentarem com peixes mortos, este era o grande problema. Pois, de cada 25 golfinhos somente um sobrevivia e se adaptava a comer desta forma. Os que se adaptavam viviam e tinha uma vida agora totalmente diferente da que tinham no mar. Eram agora animais em cativeiros que trabalhavam por comida. Peixes mortos.
Segui minhas investigações antes de decidir se aderia ou não a este sistema de terapia e busquei diversos sites de internet sobre o tema e descobri uma campanha de antigos funcionários de aquários nos EUA que foram atacados por animais a maioria das vezes por orcas e outros animais mas nunca por golfinhos que diziam que os animais não eram tão bem tratados como se aparentava e após alguns ataques de orcas os parque aquáticos e aquários com este tipo de serviço diminuíram seu atendimento e publicidade. Continuaram ativos mas já não era mais o sonho das crianças ao redor do mundo irem a Sea World para nadar com golfinhos.
Inclusive descobri se o golfinho por algum motivo não gostasse de alguém ele não se aproximava e mesmo que o turista pagasse o tour completo com voltinha segurando as barbatanas e tudo mais, ele não cumpria o serviço.
Lembro-me uma vez ver um homem com uma energia muito pesada com cheiro a cigarro e álcool, com tatuagens e correntes entrar na piscina e todos os golfinhos se afastaram deles e tiveram que devolver o dinheiro pago pelo turista que ficou com uma cara fechada como uma carranca. Realmente um clima muito pesado naquela sessão. Depois um dos treinadores cochichou entre eles que se tratava de um líder de uma facção conhecido.
Por outro lado descobri que os golfinhos adoravam passeara com as mulheres e que sorria e dava voltas ao lado da paquera. Dava olhares e jogava água com seu bico todo feliz e fazia ela rir tratando-a de forma muito especial quase declarando sua paixão. Realmente muito divertido assistir a cena do Romeu.
Segui minha investigação indo ao Amazonas várias vezes e nadei com botos que são golfinhos rosado de água doce e a sensação era muito similar a alegria de estar com este animais e de estarem com golfinhos em cativeiro. Mas confesso que os golfinhos tinham mais potencial e tinham mais interessem em interagir com os humanos.
Ali os animais eram livres e vinham nadar com os turistas apenas com a intenção de se alimentarem com os peixes que eram fornecidos pelos treinadores que passavam a mão apenas nos animais e acariciavam mas não aconselhavam os turistas fazerem o mesmo, já que havia histórico de botos que na tentativa de pegar o peixe da mão do turista deu uma mordida sem grandes ferimentos mas que para um turista em um passeio não é exatamente a experiencia que comprou. Neste tipo de passeio não era assinado nenhum termo de responsabilidade e se o turista quisesse abrir um processo contra a empresa de turismo poderia fazer, mas estamos no mundo latino e sabe como são as coisas. Os funcionários demonstravam alguma compaixão para com o turista e o caso era abafado.
Uma das vezes tive a possibilidade de fazer Acquadynamic em uma turista no local de encontro com os botos e a sensação tanto para ela como para mim foram diferentes de atender em uma piscina. Senti que estávamos com nossa energia vital expandida e nos tornamos amigos e creio que até hoje temos um contato de amizade bonito.
Outra experiência que tive talvez a mais informal e sem pretensão de nada apenas a de ter a experiência foi na Venezuela onde morei por quase dois anos e descobri que havia um delfinário a menos de 3 quilômetros de onde vivia.
Lamentavelmente Venezuela estava passando por uma situação política e econômica catastrófica e os animais eram quase esquecido pelas autoridades e viviam em função do amor dos treinadores para com eles que cuidavam dos animais quase que gratuitamente ganhando cerca de 5 dólares por mês para tal trabalho.
A água não era tão limpa porque os equipamentos estavam com problemas de manutenção e ficava turva e os animais e turistas tinham que nadar entre as fezes dos animais. Mesmo assim com toda esta situação o show continuava e os golfinhos eram treinados para levar as crianças, que ficavam maravilhadas, em passeios de foguete com elas em suas costas e barbatanas.
Mas uma vez a sensação de expandir-me mas também com tristeza por ver os animais naquela situação. Um mix de alegria e de preocupação me invadia já que havia decidido não mais dar andamento ao projeto de Golfinhoterapia.
Segui lendo livros sobre o tema e escutando especialistas vez ou outra e com a idéia em mente e hoje, pleno 2021 ao abrir algumas pastas com fotos no computador, encontrei esta. Eu com Recho meu primeiro golfinho amigo. Tenho uma cópia de pelúcia de Recho comigo, coisa de turista bobo que levo para onde vou e ele segue aqui no escritório sobre a mesa ao lado do computador e minha voz interna falou.
“O tratamento que fazem com estes animais não é muito diferente do que fazem com os cavalos”. Que são animais tão úteis para as terapias porque não, com este número atual de pacientes com TEA voltar com o projeto de Golfinhoterapia?
Vi as maravilhas que podem fazer com este tipo de paciente que me parecem que necessitam ter contato com algo extremamente divino para se despertarem de seu mundo encapsulado por alguns minutos e expandir e ter alguma sensação. A terapia assistidas com animais tem um potencial enorme em um momento em que precisamos elevar nosso ser ao divino para nos curarmos de tanta coisa.
Grato por ler.
Marcelo Roque
Terapeuta aquático
3/02/2021